Ilha Guadalupe, mais um paraíso a ser perdido, Baja California

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A Ilha de Guadalupe é uma das mais distantes do território mexicano continental. A grande quantidade de rochas vulcânicas de diferentes tamanhos espalhadas por todo seu território, evidenciam sua origem vulcânica.

No século passado, a ilha foi visitada por naturalistas e aventureiros, que ao observar os extensos bosques com neblina, a enorme variedade de pássaros e a riqueza das suas paisagens deram-lhe o apelido de “paraíso biológico”.

LUGAR DE PIRATAS E BALEIAS

Guadalupe serviu de refúgio para exploradores e piratas que a usavam como local de abastecimento de água e carne para suas longas viagens. Foi também um importante local para os baleeiros, que ali acamparam permanentemente para explorar as focas e leões marinhos que abundavam no local. Presentemente, ainda existem vestígios desses visitantes e habitantes da ilha, uma vez que na costa oriental encontram-se vestígios de construções de índios aleutas trazidas por navios russos para exploração dos referidos animais marinhos. Da mesma forma, existe uma rocha na ilha onde estão inscritos os nomes dos capitães e dos navios que a visitaram; e onde se observam lendas que datam do início do século XIX.

A FLORA DE GUADALUPE EM RISCO IMINENTE DE DESAPARECIMENTO

Devido à situação geográfica da ilha, o clima é frio e a estação das chuvas chega no inverno. E é então que nos vales as sementes das ervas e plantas germinam nos pequenos espaços deixados pelas rochas.

Há mais de um século existiam florestas de altura média nas montanhas da parte sul, que se estendiam até estes vales e em alguns deles havia espécies únicas no mundo como o zimbro de Guadalupe, cujo último exemplar morreu em 1983.

Atualmente, várias das espécies de plantas que formavam essas matas desapareceram e os vales da ilha tornaram-se extensas planícies de ervas introduzidas pelo homem que deslocaram a vegetação original, pois em muitos casos são espécies. domesticados, mais fortes competitivamente, que acabam tomando o lugar das espécies nativas. Este é mais um exemplo da ação devastadora do homem.

Se a introdução de plantas tem consequências muito danosas, é ainda mais a de animais herbívoros, como foi demonstrado na Austrália com a incorporação de coelhos em sua fauna. E como no dito continente, no final do século XVIII, navios baleeiros de diversas nacionalidades libertaram uma população de cabras na Ilha de Guadalupe para estocar carne fresca. Dadas as condições da ilha, e como não havia predador, a população de cabras aumentou e em pouco tempo o número de animais suportáveis ​​em um território tão pequeno superou. O crescimento desses ruminantes foi tão grande que já em 1860 se cogitou a possibilidade de explorá-los para fins comerciais.

Devido a este fenômeno, Guadalupe perdeu metade de suas espécies herbáceas; E como toda a vegetação da ilha, a floresta não escapou da voracidade das cabras. No final do século passado, cobria uma área de 10.000 ha e hoje sua extensão não ultrapassa 393 ha, o que significa que hoje é menos de 4% da área florestal original.

Algumas espécies de plantas da ilha são endêmicas, ou seja, não são encontradas em nenhum outro lugar do planeta, como são os casos do carvalho, da palmeira e do cipreste de Guadalupe. Das plantas mencionadas, o carvalho de Guadalupe é sem dúvida a que atualmente corre maior risco de extinção, visto que existem 40 exemplares tão antigos que a maior parte deles não se reproduziu. A palmeira encontra-se em pequenas manchas e em muito mau estado, pois as cabras usam o tronco para se coçar, o que tem feito com que o talo fique mais fino e fraco ao efeito dos ventos. A floresta de Guadalupe está seriamente ameaçada, pois há mais de meio século não nasce uma nova árvore porque uma semente demora mais para brotar do que uma cabra para devorá-la.

O último relatório da ilha é desolador: das 168 espécies de plantas nativas, cerca de 26 não foram observadas desde 1900, o que levou à sua provável extinção. Do restante, poucos espécimes foram vistos porque geralmente são encontrados em locais inacessíveis para cabras ou em ilhotas adjacentes a Guadalupe.

OS PÁSSAROS DA ILHA, UMA CANÇÃO DESESPERADA

A escassez de árvores na floresta obrigou algumas espécies de pássaros a nidificarem no solo, onde são presas fáceis para a grande quantidade de gatos que vivem na natureza. Sabe-se que esses gatos exterminaram pelo menos cinco espécies de pássaros típicos das ilhas, e nem em Guadalupe nem em qualquer outro lugar do mundo poderemos encontrar a caracara, o petrel e outras espécies de pássaros que vêm desaparecendo ano após ano. do paraíso anterior desta ilha.

OS ÚNICOS MAMÍFEROS NATIVOS NA ILHA

No inverno, as praias arenosas e rochosas ficam cobertas pelo mamífero mais notório da ilha: o elefante marinho. Este animal vem das ilhas da Califórnia nos Estados Unidos para se reproduzir nesta ilha do Pacífico mexicano.

No século passado, esses enormes animais foram vítimas dos baleeiros, e o massacre foi tanto que em 1869 se pensava que estavam extintos, mas no final do século 19 alguns exemplares desta espécie foram encontrados na ilha, já que foi em Guadalupe onde a população de elefantes marinhos se recuperou. Hoje, esses animais podem ser vistos com frequência em muitas das ilhas do Pacífico Norte e do México.

Outra das inúmeras riquezas biológicas da ilha é a foca de Guadalupe, que se acreditava estar extinta devido aos grandes massacres que lhe ocorreram no século passado pelo valor comercial das suas peles. Atualmente, sob a proteção do governo mexicano, esta espécie está se recuperando.

ALGUNS ARGUMENTOS A FAVOR DA CONSERVAÇÃO DA ILHA

Além de possuir uma enorme riqueza biológica, a Ilha de Guadalupe é de grande importância política e econômica. E como a reivindicação de soberania de uma ilha é amplamente determinada pelo seu uso, em 1864 o governo mexicano enviou uma guarnição militar para protegê-la de incursões estrangeiras. Atualmente, esta reserva militar está a cargo de cinco destacamentos de infantaria distribuídos em diferentes pontos da ilha, e sua soberania também é garantida com a presença de uma colônia de pescadores que se dedicam à captura de lagosta e abalone, produtos que possuem grande demanda no exterior.

Além de ser um laboratório biológico, estando a 140 milhas da costa da Baja California, a ilha se estende por 299 milhas mais nossa zona econômica exclusiva, o que permite ao México exercer sua soberania para explorar e explorar os recursos marítimos desta área.

Se esses argumentos não bastassem, deveríamos apenas pensar que a ilha faz parte do nosso patrimônio natural. Se o destruirmos, a perda não será apenas para os mexicanos, mas para toda a humanidade. Se fizermos algo por ele, pode ser mais uma vez o "paraíso biológico" encontrado pelos naturalistas do século passado.

Fonte: Desconhecido México No. 210 / agosto de 1994

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